quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ódio?





"Ódio por ele? Não...se o amei tanto,



Se tanto bem lhe quis no meu passado,



Se o encontrei depois de o ter sonhado,



Se à vida assim roubei todo o encanto,






Que importa se mentiu? E se hoje o pranto



Turva o meu triste olhar, marmorizado,



Olhar de monja, trágico, gelado



Com um soturno e enorme Campo Santo!






Nunca mais o amar já é bastante!



Quero senti-lo doutra, bem distante,



Como se fora meu, calma e serena!



Ódio seria em mim saudade infinda,



Mágoa de o ter perdido, amor ainda!






Ódio por ele? Não...não vale a pena!"






Florbela Espanca (1894-1930)

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